domingo, 16 de janeiro de 2011

Maya


Quando olho no espelho, fico procurando quem sou eu.
É apenas um espelho, que mostra uma imagem irreal, distorcida.
Um fragmento de vidro. Mas fico imaginando se posso me encontrar ali.

Tenho praticado ser amarga.
Tenho me saído muito bem nas tentativas de alimentar ressentimentos,
de ruminar tristezas. Mereço aplausos. Não mereço?

Tem feito muito calor esses dias. Me faz querer sair de dentro de mim, para respirar.
Mesmo quando chove no fim da tarde, e a terra se perfuma com a água,
não tenho mais encontrado os limites de meus lábios, que denominam seu formato.

Continuo voltando ao espelho.
Tento perceber o tamanho de minhas pupilas, mudando,
as cores de minha íris, o contorno dos olhos que meus cílios emolduram.

Estou aprendendo a sentir medo, tenho exercitado com esmero.
Temo não ser o bastante, não ser quem eu deveria.
Tenho medo de não conseguir chegar lá. Medo. Paralizada.

Fiquei parada, fitando a estrada, amedrontada com as incertezas.
Assustada com as coisas que posso encontrar no caminho.
Temerosa de não encontrar o que espero, ao chegar.

Tenho me esforçado para odiar os que um dia, amei.
Tenho feito de tudo para desmanchar o sentido de belas palavras
e sentimentos sublimes. E tenho me saído bem nisso também.

Para ser mais forte,
mais auto-suficiente,
menos vulnerável.

Mas ninguém sai ileso quando se empenha tanto em se despedaçar, para ser mais inteiro.
Muitos pedaços meus tem morrido, pouco tem nascido de mim.
Estou de luto por tempo demais.

Me aplico na busca por mim mesma, no espelho.
Pego lápis, cores, e tento desenhar meu rosto, em meu rosto.
Aquela que eu queria ser, que eu poderia ser.

Então penso, que posso estar procurando no lugar errado.
Me levanto, vou até a janela.
E vejo minha imagem refletida no vidro.
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