Olhos fechados. Dei as costas para a vida, não quero ouvi-la respirar. O mundo tem estado em ruínas por estes dias, lentamente as paredes e o céu desmoronam e as cinzas se espalham pelo ar. Desabando a cada segundo, a cada grão que cai na ampulheta. Desmontamo-nos de nossos restos de suspiros, pulsações e alegrias tristes. Nossa máscara pálida e manchada não esconde mais o interior pútrido de nossa natureza.
Olhamos para o céu cinzento, pela janela sem vidro que embaça ao arfar de nosso hálito ácido. Nos trancafiamos em nossas torres com nossas trancas enferrujadas, pintando nossos anseios com o pó dos escombros de nós mesmos. Perde-se o que nunca se teve, escorrendo pelos dedos como areia e desfazendo-se ao vento como vapor. Nos atiramos em fogueiras, mas a carne não queima, apenas por dentro secamos, um deserto desbotado e tão silencioso quanto uma repetição de estrondos que se perdem no eco. A garganta se contorce com as entranhas, o coração atrofiado, mesmo assim se espreme, dilata e bombeia essa fumaça negra.
Qual é a pergunta? Qual é a resposta? Olhe no espelho trincado bem dentro dos seus olhos opacos e procure. Tudo que está escrito é verdade. Na verdade, a verdade não existe.
Acho que meu presente caiu. Caiu no abismo e se quebrou.