terça-feira, 22 de novembro de 2005

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Acorde Agora

Esfriei tanto que sinto-me gélida. Me acalmei tanto que entreguei-me a letargia. Aceitei tanto que me acomodei. Ouvi tanto, que me arrancaram as orelhas e me furaram os ouvidos. Abri tanto meus olhos que pareço tê-los cegado. Tentei aprender e agora todas as minhas frases se repetem mecânicamente. Me busquei em tanta coisa que não sei onde estou. A cada dia a apatia me acorda de meus sonhos cinzentos e a esperança me fere com seus espinhos. Caminho perdida por multidões de pernas ágeis, por muros de olhos curiosos e incansáveis, que me violam e despem-me de minhas alegrias e perspectivas, minhas dádivas. Caminho sem rumo, sem enxergar, com os cabelos desgrenhados e as roupas rasgadas pelos ventos incessantes da banalidade. O mundo, a vida, são uma roda que gira impiedosa em todas as direções, devorando nossos segundos e minutos, confundindo nossos sentidos. Não sei se estou acordada.

quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Senhas (Adriana Calcanhoto)

"Eu não gosto do bom gosto Eu não gosto do bom senso Eu não gosto dos bons modos Não gosto Eu aguento até rigores Eu não tenho pena dos traídos Eu hospedo infratores e banidos Eu respeito conveniências Eu não ligo pra conchavos Eu suporto aparências Eu não gosto de maus tratos Eu aguento até os modernos E seus segundos cadernos Eu aguento até os caretas E suas verdades perfeitas Eu aguento até os estetas Eu não julgo a competência Eu não ligo para etiqueta Eu aplaudo rebeldias Eu respeito tiranias Eu compreendo piedades Eu não condeno mentiras Eu não condeno vaidades Mas o que eu não gosto é do bom gosto Eu não gosto do bom senso Eu não gosto dos bonsmodos Não gosto Eu gosto dos que têm fome Dos que morrem de vontade Dos que secam de desejo Dos que ardem…"

segunda-feira, 10 de outubro de 2005

O que não queremos ver

Estamos todos perdidos num mar de sombras, nos afogando no abismo de nossa própria incoerência.
Perdidos entre as sombras que criamos e alimentamos, estas que por fim são as mesmas que nos engolem e sufocam nossas palavras costurando nossos lábios.
Somos todos marionetes de nossa ignorância, reflexos de nossos anseios, pequenos momentos de satisfação efêmera. Todos nos apegamos a fugidios brilhos, que não alcançamos jamais, apenas vislumbramos ao longe, apertando os olhos para distinguir a luz entre as sombras.
Ah, as sombras, fingimos que não, mas elas sempre estão lá, no íntimo, no desejo que queima, no vazio que transcorre do tempo que passa, no sangue que circula nas veias, na descrença desoladora, no não saber.
Sim, somos todos pequenos pontinhos perdidos num mar imenso de sombras, e sim, elas sempre estão lá.
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