segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Réquiem II


Do ponto em que culminam as turbulências ocasionadas
pelos choques entre as massas negras de nuvens
das tempestades que criamos, que crio, que criei,
onde todos os raios e estampidos luminosos trovejam.

Da lama densa e escura onde revolvem-se os vermes,
a alimentarem-se de restos putrefatos,
onde o oxigênio não adentra,
germinaram botões alvos de perfumada flor.

Foi na leveza de saber da impermanência de todas as coisas,
sejam doces e afáveis, sejam dolorosas e cruciantes,
que desataram-se as duras amarras
e a brisa gentilmente conduziu para além,

brandamente roçou a pele de minha nunca,
purificando de todas as considerações,
manipulações, de todos os despotismos, apegos,
aquietando a mente afligida, na fluidez da exoneração.

As mãos e os braços esticaram-se na direção
de um lugar no qual todas as coisas são livres,
em sua imaculada natureza mutável,
onde todas as cores podem escolher de que cor querem ser.

domingo, 28 de agosto de 2011

Réquiem I


Atingiu como um soco a consciência adormecida,
que ignorava a existência de qualquer reminiscência
de coisas grandes demais para caberem em uma vida, ou duas.
De coisas pequenas demais para demolir tão imponentes fortalezas,
de coisas... e doeu.

Doeram-lhe o ventre e as entranhas, o âmago.
Rasgaram-lhe do peito à garganta, arrematada com nós,
aquelas parábolas sem sentido,
de loucos que giram em círculos, mãos dadas,
apenas para estatelarem-se juntos ao chão, em alguma volta.

Explodiram ante seus olhos vidrados,
todos os pontos embusteiros, verdugos,
que anunciaram a miséria daquele júbilo,
propagador de aforismos decadentes, empoeirados,
puídos, tão passado o tempo de serem deitados fora.

Há muito conservada e nutrida, lástima rancorosa,
cativa no sabor amargo que se prolongava, fel,
na ponta da língua, no fio da lâmina,
desferindo seu corte agudo, /mea culpa/ na carne.
Voluntariosamente oferecendo-se

ao deleite de tão ternas mortificações.
Desnuda agora desmistificava o sentido,
de uma coisa qualquer que já não mais respirava,
rastejava destroçada pelos cantos mais obscuros.
Fechou os olhos cegos, pulsou uma derradeira vez, cessou.
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