domingo, 28 de agosto de 2011

Réquiem I


Atingiu como um soco a consciência adormecida,
que ignorava a existência de qualquer reminiscência
de coisas grandes demais para caberem em uma vida, ou duas.
De coisas pequenas demais para demolir tão imponentes fortalezas,
de coisas... e doeu.

Doeram-lhe o ventre e as entranhas, o âmago.
Rasgaram-lhe do peito à garganta, arrematada com nós,
aquelas parábolas sem sentido,
de loucos que giram em círculos, mãos dadas,
apenas para estatelarem-se juntos ao chão, em alguma volta.

Explodiram ante seus olhos vidrados,
todos os pontos embusteiros, verdugos,
que anunciaram a miséria daquele júbilo,
propagador de aforismos decadentes, empoeirados,
puídos, tão passado o tempo de serem deitados fora.

Há muito conservada e nutrida, lástima rancorosa,
cativa no sabor amargo que se prolongava, fel,
na ponta da língua, no fio da lâmina,
desferindo seu corte agudo, /mea culpa/ na carne.
Voluntariosamente oferecendo-se

ao deleite de tão ternas mortificações.
Desnuda agora desmistificava o sentido,
de uma coisa qualquer que já não mais respirava,
rastejava destroçada pelos cantos mais obscuros.
Fechou os olhos cegos, pulsou uma derradeira vez, cessou.

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