Não sou mais poesia.
Secou em mim a laguna,
ficaram o sal e os corais cortantes.
Só o que sangra, só o que queima.
Não sou mais tua, nem minha,
não sou mais de ninguém, de nada.
Nem noite, nem dia,
só crepúsculo sem fim.
Porque parece, que é preciso dor para cintilar.
Parece que a ferida aberta desperta o sublime.
Não, não sou mais melodia.
Sou corda que estica e ameaça arrebentar.
Tenho uma fome a consumir minhas entranhas.
Tenho meus braços vazios,
um suspiro engasgado,
uma ofensa na ponta da língua.
Na verdade, nunca tive beleza.
Na verdade, tenho um cisco,
alguma coisa feia encovada nas órbitas dos olhos.