terça-feira, 8 de maio de 2007

Páramo

Teve medo e sentiu-se nua, nada havia para confortá-la ou para lhe abrigar em meio à tempestade. De súbito estava só, desamparada e perdida como uma criança. Queria que alguém a tomasse pela mão e a guiasse, mas não havia ninguém, não haveria. Era assim que funcionava, cabia a ela enfrentar tudo sozinha, pois estava nela também a tormenta, e já não era mais criança afinal.
Olhou para os pés e lembrou de quando eram pequenos e não muito observados; -curioso como na infância tudo a nossa volta e fora de nosso mundo sempre parece muito mais importante e interessante, mais sério, e quando crescemos nos voltamos para nós quase que fundamentalmente, centralizando em nossas pessoas tudo o que importa (lembrou de seu egoísmo)... Entristeceu-se com a lembrança e teve mais certeza ainda de que não se pode estar certo de muita coisa. Tudo estava mudando, deu-se conta, tudo mudaria sempre, sempre mudou, talvez isso fosse melhor do que poderia conceber, mesmo que sofresse algumas vezes.
Não lembrava de ter sido atingida assim anteriormente, talvez tenha sido, mas seus olhos (pensava), não estavam abertos como agora, e na verdade, tudo não parecia tão intenso como agora. Havia aquela força invisível que a arremessava de um lado para o outro dentro de sua cabeça. Uma força que não poderia explicar, que não se pode compreender, inevitável, a qual nos subjuga sem exceção, impunemente.
Assistia a tudo assustada, como atriz e mais ainda como platéia daquela tragédia.
Teve medo e estava só, aprendendo ali, naquele momento, algo que era parte do que as pessoas chamam de “crescer”, dói e não se tem escolha.

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